O presente sítio visa arquivar todo e qualquer material que se faça de interesse para os escritores iniciantes.
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Confira dicas de especialistas para autores que querem publicar seu primeiro livro
"Um em cada mil manuscritos é publicado", diz Lúcia Riff.
Agente literária participou de debate no Fórum das Letras em Ouro Preto.
“Eu recebo vários e-mails de pessoas que querem publicar seu livro, mas não sabem por onde começar. E infelizmente eu nunca tenho tempo de responder todo mundo, é uma pena”, lamenta a agente literária Lúcia Riff. Ela diz receber centenas de mensagens, sem contar manuscritos de obras completas, semanalmente, e afirma não dar conta de atender todo mundo.
A agente participou nesta sexta-feira (30) da mesa “Passos da produção do livro - da redação à edição” no Fórum das Letras em Ouro Preto. Em entrevista ao G1, ela explica que entrar no mercado editorial é uma tarefa complicada para escritores iniciantes. “Como diz a Anne-Marie (Metailié, editora francesa), um em cada mil manuscritos acaba sendo publicado. E nem sempre é o melhor, é o que tem mais sorte mesmo”.
Metailié, que participou do mesmo debate, é uma das maiores editoras de autores brasileiros na França. Ela diz que escrever “não é fácil. O autor tem que estar convencido de que para ele isto é uma necessidade”. Socióloga, ela começou sua editora (a Editions Metailié) para publicar apenas três livros, depois de conhecer o editor francês de Samuel Beckett, durante uma pesquisa.
“Era para ser uma editora de ciências humanas, mas fui aumentando o catálogo. Me interesso pelo ‘outro’ – outras partes do mundo, outros países. Temos dois lemas – ‘Livros para viver com paixão’ e ‘livros que trazem o mundo para os leitores’”, explica Metailié, que comemora em 2009 os 30 anos de sua editora.
Primeiro leitor
Ela diz que o trabalho do editor é ser o primeiro leitor do escritor, mas um "leior generoso", que faça críticas construtivas ao seu trabalho, sem nunca se impor demais. “É preciso apagar o seu ego frente aos autores”, explica. “Se você estiver disposto a não ganhar dinheiro por anos, ter paciência para lidar com os bancos, trabalhar por muitas horas e assumir seus erros, este pode ser um trabalho maravilhoso”, explica.
Formada em psicologia, Riff foi trabalhar em uma agência logo após sai da faculdade. Em 1991, montou a Agência Riff. “Em plena Era Collor!”, desabafa. “Tive que economizar, lutar muito. Mas valeu a pena” . Ela diz gostar de estar em contato com os autores brasileiros que representa. “Gonsto do comprometimento, do trabalho a longo prazo. É como uma mãe com vários filhos”.
Ela diz que esperava novas agências literárias aparecendo nos últimos anos, mas que isso não aconteceu. “Há espaço, temos muitos bons autores, um mercado editorial forte. Ao mesmo tempo, é difícil começar – você precisa de um bom escritório, de disposição para viajar internacionalmente, bons contatos”, imagina.
Confira abaixo nove dicas de Lúcia Riff para os novos autores que querem ser publicados
- Leia bastante, conheça outros autores e os gêneros literários.
- Vá a livrarias e procure entender melhor o mercado editorial e o que está sendo publicado.
- Melhore seu texto: participe de oficinas, faça cursos, envie seus textos para uma leitura crítica feita por especialistas (que cobram por isso).
- Envie seu material para editoras que têm o perfil do livro que você quer escrever.
- Você pode achar chato escrever na internet em blogs e sites, mas ela também é um meio para se publicar e amadurecer seu texto.
- Se tiver dinheiro e quiser apenas publicar tiragens menores de seus livros, você pode recorrer a gráficas independentes.
- Gostar de escrever é uma coisa, mas ser publicado é outra. Nem sempre aquele que é publicado é melhor do que o que permanece inédito. É preciso paciência.
- Se você escreve literatura infantil ou juvenil, boa notícia. Esse mercado tem mais espaço para novos autores.
- Visite sites como www.escrevaseulivro.com.br e www.amigosdolivro.com.br para ver mais dicas de cursos e oficinas.
Veja a programação completa do Fórum das Letras de Ouro Preto no site oficial do evento: www.forumdasletras.ufop.br/
quinta-feira, 24 de dezembro de 2009
A grande arte de Rubem Fonseca
O recluso escritor mineiro fala sobre literatura, mulheres e dá conselhos a jovens escritores, em dois rápidos encontros no Rio de Janeiro
Alexandre Gaioto, estudante do quarto ano dos cursos de Jornalismo (Centro Universitário de Maringá) e Letras (Universidade Estadual de Maringá), se propôs uma missão quase impossível: entrevistar o escritor Rubem Fonseca, um dos maiores nomes da literatura brasileira contemporânea e notoriamente avesso ao assédio da imprensa.
Gaioto foi até o Rio de Janeiro, onde Fonseca vive, e consegiu conversar com o autor de A Grante Arte, Agosto e O Caso Morel. Leia abaixo um relato de sua aventura.
Considerado um dos maiores escritores brasileiros vivos, Rubem Fonseca, de 83 anos, não concede entrevistas e raramente permite ser fotografado. O escritor, que mora em um prédio localizado a poucos metros do mar, escreve diariamente, em seu notebook, das quatro às oito horas da manhã. Em seguida, parte para sua caminhada matinal pelas ruas do Leblon, no Rio de Janeiro, onde reside.
No último dia 16 de janeiro, abordei José Rubem Fonseca na rua onde ele mora. Vestindo calça jeans, camiseta branca e boné cinza, o escritor voltava do supermercado, lentamente, carregando dois litros de leite em uma sacolinha.
Ao me apresentar como acadêmico de Letras, da Universidade Estadual de Maringá – omito que também estudo Jornalismo –, informo que viajei do interior do Paraná apenas para conhecê-lo, e que sonho ser escritor. Fonseca, com uma voz rouca, não esconde seu espanto: “Como você me encontrou aqui?”
Enquanto autografa os dois livros que eu lhe mostro, o escritor revela seus três autores prediletos, Carlos Drummond de Andrade, João Cabral de Melo Neto e Ferreira Gullar: “Poesia é o gênero que eu mais gosto de ler”, diz Fonseca, antes de desejar-me boa sorte, atravessar a rua e entrar no prédio.
No dia seguinte, empunhando uma máquina fotográfica, volto ao prédio dele para tentar arrancar mais algumas palavras e uma rara imagem do recluso escritor. Por volta das 10 horas, Fonseca sai para sua tradicional caminhada, desta vez com a missão de devolver dois filmes em uma locadora.
Sem desconfiar de que está sendo fotografado, Fonseca devolve os DVDs senta-se em um banco de madeira, na calçada, onde é reconhecido por uma leitora de 60 anos. Após ele se esquivar cordialmente de um convite para jantar a sós com a admiradora, sento-me ao seu lado para mais alguns minutos de conversa.
Segundo o escritor, que só participa de sessões de autógrafos e ministra palestras quando está no exterior, a distância dos meios de comunicação sempre foi uma estratégia para garantir o anonimato.
“Aqui no Leblon, todos sabem onde o João Ubaldo Ribeiro mora, porque a cara dele sai estampada nos jornais durante toda semana. Eu nunca quis isso para mim! Você é um cara legal, bem-humorado e quer ser escritor. Mas também tem muita gente chata!”, me diz.
A única entrevista concedida pelo escritor para um canal de televisão brasileiro foi na Alemanha, em 1989, durante a queda do muro de Berlim. A então namorada de Fonseca, ao identificar uma equipe da Rede Bandeirantes, sugeriu ao repórter que entrevistasse seu namorado brasileiro. “Na entrevista, eu disse que nós estávamos vivendo um momento histórico. Quando a matéria veio para a edição, no Rio de Janeiro, o chefe de jornalismo ficou louco, porque o repórter não me reconheceu! Eu disse apenas que meu nome era José Fonseca. Depois disso, o jornalista ficou me procurando lá na Alemanha para tentar uma entrevista exclusiva, mas nunca mais me achou.”
Durante as respostas, é comum o escritor contemplar, com olhares e sorrisos maliciosos, as sensuais mulheres que caminham nas ruas com shorts minúsculos. Quando uma loira e uma morena passam pela nossa frente, Fonseca esquece a resposta que formulava, e desabafa: “As mulheres são incríveis, você não acha? As morenas são as minhas favoritas. E você, prefere qual?”, indaga.
Censura
Os livros de Rubem Fonseca, repletos de violência, estupros e assassinatos, são repudiados pelos leitores mais conservadores. Abusando de um erotismo sarcástico, símbolos fálicos e de uma linguagem agressiva, o autor domina, com maestria, a arte de perturbar.
“O escritor tem de escrever o que ninguém quer ler. Para escrever o que todos querem ler, existem os jornalistas. O meu editor já me disse, uma vez, que ninguém ia gostar do meu texto. E eu disse a ele que, seu eu quisesse escrever sobre gosma, merda e sexo, eu iria escrever”, diz.
Durante a ditadura militar (1964-1985), uma de suas obras, Feliz Ano Novo (1975) chegou a ser proibida pelo então ministro da Justiça, Armando Falcão, sob a alegação de “exteriorizar matéria contrária à moral e aos bons costumes”. A ditadura não amedrontou o gênio provocador. “Eu nunca tive medo quando os meus livros foram censurados. Eles censuraram o Feliz Ano Novo por uma babaquice. Então, eu resolvi escrever O Cobrador (1979), que é muito mais pornográfico e muito mais violento.”
Conselhos
Para Rubem Fonseca, os aspirantes a escritores nunca devem caminhar sem um bloco de notas. Comprovando a importância do conselho, o escritor exibe um caótico e minúsculo bloquinho, sacado de um dos seus bolsos. Manter uma rotina e, sempre que possível, retomar o texto para reescrevê-lo, são outras preciosas dicas do autor.
“Escrever é um exercício diário. Mesmo que seja uma linha, é preciso escrever todo o dia. É preciso também sempre reescrever o texto. Há sempre uma forma de melhorar a obra”, aconselha.
Para encerrar a conversa, digo a Rubem Fonseca que, daqui a 40 anos, certamente haverá uma estátua dele, no calçadão do Leblon, a exemplo da estátua de Carlos Drummond de Andrade, em Copacabana. Sorrindo, o escritor ironiza: “Se fizerem mesmo essa estátua, eu quero estar agarrando uma gostosa.”
Fui convidado a participar como palestrante de uma das mesas do Livre-se: I Simpósio do Livro da UFRJ realizado entre os dias 27 e 29/10/2009 na Biblioteca Nacional. Na bonita definição do evento: "Alguns livros são como paixões: transformam o amante e a mente. Já os amores são complacentes: não nos aborrecem com exigências sisudas de fidelidade. O amor do livro é livre. Aspecto fundamental de qualquer relação amorosa é o diálogo."
A seguir, a palestra que fiz no evento sobre o Mercado do Livro no Brasil, tendo por base dados relativos ao ano de 2008.
O livro é uma das cadeias produtivas da economia. A cadeia produtiva do livro é constituída pelos seguintes setores:
- Autoral
- Editorial
- Gráfico
- Produtor de papel
- Produtor de máquinas gráficas
- Distribuidor
- Atacadista
- Livreiro
- Biblotecário
A interface entre dois destes setores forma um mercado. O mercado do livro é composto, basicamente, por dois conjuntos de relações:
- editor / livreiro, permeado ou não por distribuidores e atacadistas
- varejista / consumidor final; consumidor final pode ser pessoa física ou biblioteca
Mas, qual é o tamanho deste mercado do livro no Brasil? Em faturamento, no ano de 2008, apurou-se o valor de 3,30 bilhões de reais (3.305.957.488,25). Na divisão entre vendas para mercado e vendas para governo, temos a seguinte:
- mercado: 2,43 bilhões de reais (2.436.606.207,66)
- governo: 869,35 milhões de reais (869.351.280,59)
Para maior visibilidade, o faturamento para mercado representa 73,70% e para governo 26,30%. Mesmo assim, para se ter uma boa noção do que representa este mercado do livro em termos econômicos, há que se fazer mais uma comparação; neste caso, a melhor comparação é com o PIB do país. Mas o que é PIB?
"Principal indicador da atividade econômica, o PIB - Produto Interno Bruto - exprime o valor da produção realizada dentro das fronteiras geográficas de um país, num determinado período, independentemente da nacionalidade das unidades produtoras. Em outras palavras, o PIB sintetiza o resultado final da atividade produtiva, expressando monetariamente a produção, sem duplicações, de todos os produtores residentes nos limites da nação avaliada. A soma dos valores é feita com base nos preços finais de mercado. A produção da economia informal não é computada no cálculo do PIB nacional."
A fórmula para se chegar ao valor do Produto Interno Bruto é:
PIB = C + I + G + NX onde
C = Consumo
I = Investimento
G = Despesa do Governo
NX = Exportações Líquidas
..: "Consumo" refere-se a todos os bens e serviços comprados pela população. Divide-se em três subcategorias: bens não-duráveis, bens duráveis e serviços;
..: "Investimento" consiste nos bens adquiridos para uso futuro. Essa categoria divide-se em duas subcategorias: investimento fixo das empresas (formação bruta de capital fixo) e variação de estoques;
..: "Despesa do Governo" inclui os bens ou serviços adquiridos pelos governos Federal, Estadual ou Municipal;
..: "Exportações Líquidas" trata-se da diferença entre exportações e importações. Definições retiradas do portal IPIB.
Agora que já sabemos o que é PIB falta saber quanto foi. Em 2008 o PIB do Brasil foi de 2,9 trilhões de reais (2.900.000.000.000,00). Portanto, o mercado do livro no Brasil, que no mesmo ano teve o faturamento de 3,30 bilhões de reais, representa 0,11% do PIB. Como se vê, há muito para crescer.
Outra forma de avaliar o mercado é voltarmos o olhar para o número de exemplares. Em 2008 foram vendidos 333.264.519 exs; na divisão básica, 211.542.458 exs vendidos para mercado e 121.722.061 exs vendidos para governo. Em termos percentuais, 63,47% para mercado e 36,53% para governo.
É claro que são números imensos; são milhões, afinal. Entretanto, precisam de um parâmetro de comparação. Creio que o melhor é o que relaciona esses números com a população. Segundo dados do IBGE, o Brasil em 2008 tinha 189,6 milhões de habitantes (189.600.000). Considerando-se os exs vendidos para mercado, os 211.542.458 exs, e dividindo-se pela população do Brasil, obtem-se o número, a falsa média, de 1,1 (um vírgula um, isso mesmo) livros por habitante. É muito, muito pouco, não?
Segmentos do mercado do livro
Para melhor conhecer o mercado do livro as pesquisas já realizadas utilizam a seguinte divisão:
- Didáticos
- Obras gerais
- Religiosos
- CTP - científicos, técnicos e profissionais
Os números percentuais em faturamento e em exemplares são:
- Didáticos 41,09% do faturamento e 34,76% dos exs
- Obras gerais 26,36% do faturamento e 30,04% dos exs
- Religiosos 13,18% do faturamento e 23,76% dos exs
- CTP cient; técn; prof 19,37% do faturamento e 11,44% dos exs
Com relação a títulos novos no mercado, em 2008 foram lançados em 1ª edição 19.174 títulos. O ano, em termos nacionais, tem 249 dias úteis [365 - 104 (sáb + dom) - 12 (feriados nac.)].
Portanto, teve-se uma média de 77 novos títulos por dia no mercado.
Quanto aos canais de comercialização do livro, os principais são:
45,64% livrarias (inclui as ponto.com)
25,32% distribuidores
13,66% porta a porta
Estes três representam 84,62%
Com os números apresentados, o mercado do livro está em crescimento?
Em número de exemplares, sim (mercado):
+ 5,63% de 2007 para 2008 ou
+ 37,74% de 2004 para 2008
Em faturamento, não (mercado):
em 2004 o preço médio do livro foi de R$ 12,68
em 2008 o preço médio do livro foi de:
R$ 9,29 (deflacionado em relação a 2004) / queda de 26,73%
R$ 11,52 (corrente, sem deflação) / queda de 9,15%
O valor do preço médio é o valor líquido que entrou para o caixa das editoras. Pelas características da comercialização do mercado do livro, existe uma escala de descontos de 50% para os distribuidores e redes (estas são distribuidoras para as suas próprias lojas), e depois dos distribuidores para as livrarias com variação entre 30% e 40%. Sendo assim, o preço médio na ponta, para o consumidor final, foi o dobro do apresentado acima.
Questões atuais do mercado do livro
01 – Profissionalização
Uma das maiores, sem dúvida, é a busca da profissionalização que será determinante tanto para o crescimento quanto para a própria permanência no mercado das empresas que o formam, sejam elas livrarias sejam editoras, tendo em vista tanto a concorrência interna quanto externa. As instituições do livro podem, e devem ser, os canais para a busca da profissionalização do mercado. As principais, de abrangência nacional e por antiguidade, são:
Apesar dos esforços da CBL, SNEL e, mais recentemente, da ANL, ainda faltam dados estatísticos consolidados sobre o próprio mercado. Em muitos casos por falta de informações que as próprias empresas do mercado ainda têm receio de fornecer para alimentar as pesquisas. Não se sabe, com precisão, quantas editoras e quantas livrarias existem no país.
Desde 1991 CBL e SNEL patrocinam a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro que, a partir de 2007, passou a ser feita pela Fipe - Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, da USP. Os dados apresentados até aqui vêm dessas pesquisas.
02 – Concentração
Na economia mundial, uma das características atuais é a concentração. No Brasil, no mercado do livro, começou pelas editoras. Segue levantamento:
a) Record comprou em
1997 - Bertrand Brasil
1997 - Civilização Brasileira
1997 - Difel
2001 - José Olympio
2004 - Best-Seller
2005 - joint-venture com Harlequin Books (do Canadá)
c) Ediouro comprou em
2002 - Agir
2004 - Relume-Dumará
2005 - Nova Fronteira (50%)
2006 - joint-venture com Thomas Nelson (americana)
2007 - Nova Fronteira (os outros 50%)
2007 - Nova Aguilar
2008 - Desiderata
i) Grupo Leya
11.09.2009 é lançado oficialmente no Brasil
"O Brasil é um mercado emergente com grande potencial de crescimento, sobretudo na direção de livros com preços populares e com objetivos educacionais."
A opinião acima deixa bem claro os desafios que já podem ser vislumbrados, afinal, é a opinião de John Makison, presidente mundial de uma empresa que tem negócios em 60 países, a Penguin Books. (O Globo, 10.09.2009).
04 – Livrarias
A ANL - Associação Nacional de Livrarias fez um levantamento através do envio de questionários para saber quantas livrarias existem no Brasil. A própria ANL adverte que não é uma pesquisa e, sim, um levantamento de dados.
ANL considera "livraria" a empresa que oferece um bom acervo de livros, independente de vender outros produtos. Assim, chegou ao número de 2.676 livrarias no Brasil. Como o país tem 5.564 municípios além do DF, chega-se à falsa média de 0,48 livraria/município.
Essas 2.676 livrarias estão distribuídas pelas regiões geográficas e DF, da seguinte forma:
1.414 ou 53% na região Sudeste (são 4 estados)
524 ou 20% na região Nordeste (são 9 estados)
417 ou 15% na região Sul (são 3 estados)
132 ou 5% na região Norte (são 7 estados)
118 ou 4% na região Centro-Oeste (são 3 estados)
71 ou 3% no DF Distrito Federal (é 1 unidade)
A concentração também está presente, e muito, na distribuição das livrarias pelo país, como mostram os dados acima. Dentro de uma região geográfica também existe a concentração. Abrindo a maior região em número de livrarias, a Sudeste com 53%, temos os seguintes dados (arredondados) por estado:
SP tem 676 livrarias; representa 48% da região e 25% do Brasil (é 1/4)
MG tem 360 livrarias; representa 25% da região e 13% do Brasil
RJ tem 335 livrarias; representa 24% da região e 13% do Brasil
ES tem 43 livrarias; representa 3% da região e 2% do Brasil
No meu modo de ver o mercado livreiro iniciou um processo de concentração acelerado a partir de 2008, quando a Saraiva comprou a Siciliano e transformou-se, assim, na principal rede de livrarias do país em número de lojas. Este movimento da Saraiva acirrou a concorrência e estimulou outras redes a abrir mais lojas em menor espaço de tempo. Por exemplo, a Livraria Cultura abriu duas lojas em 2008, uma em 2009 e tem três anunciadas para 2010 (Fortaleza, Brasília e Salvador). No Rio, a Livraria da Travessa abriu uma loja em dezembro de 2008 e outra em setembro de 2009.
Esta concentração do setor livreiro com a expansão das redes também é facilitada pela migração, maior a cada ano, do comércio varejista para os shoppings. Os shoppings cada vez mais oferecem serviços além das tradicionais lojas, sem falar das questões ligadas à segurança, estacionamento etc. Como os custos de uma loja em shopping são elevados, é cada vez mais difícil encontrar pequenas livrarias nesses espaços, que são ocupados, preferencialmente, por lojas de redes que, em muitos casos, são lojas âncora. Alguns números para comprovar esta tendência:
Em 2000 o Brasil tinha 280 shoppings; já eram 377 em 2008, ou seja, crescimento de 34,64%. Qundo se olha para o número de lojas nesses mesmos anos, o aumento foi de 90,96%, passando de 34.300 para 65.500 lojas. Para 2009 estão previstos mais 23 shoppings e para 2010 mais 19 shoppings. Portanto, sem retorno desta tendência da concentração do comércio nos shoppings.
As principais redes de livrarias em número de lojas são:
Uma observação: a Nobel tem uma quantidade maior de lojas, em torno de 180 pontos de venda, mas são franquias, isto é, CNPJ diferentes e a responsabilidade pelos pagamentos é de cada franquia e não da franqueadora. Por isto, não a considero como uma rede como Saraiva, Cultura, Fnac etc.
05 - E-commerce
Na metade de 2009 já somos 15,2 milhões de e-consumidores e o e-commerce aumenta a cada ano no Brasil. O livro é a categoria mais vendida em número de pedidos com 17% em 2008. Este número demonstra que o produto livro, principalmente os títulos da cauda longa, que cada vez mais, têm menos espaço nas livrarias físicas terão, na web, o seu principal canal de comercialização.
Começa a acontecer um fenômeno interessante na web, que vai na contramão da concentração que existe no comércio via lojas físicas. Na web é possível a descentralização; é possível a concorrência entre gigantes, médios e pequenos. E assim, a cada dia, mais lojas são abertas na web. Alguns números para comprovação:
. os Top 50 vêm perdendo participação no mercado;
comparando 1º semestre de 2008 com 1º semestre de 2009, temos:
. a Top 1, a B2W [Submarino+Americanas+Blockbuster+Shoptime] perdeu 5,50%;
. os Top 10 perderam 2,30%;
. os Top 50 perderam 1,60%;
. a partir da posição 51 houve ganho de 1,60%
Livro digital; novos suportes de comercialização; direitos autorias e pirataria ficam para outros posts.
Fontes de pesquisa
. Sites citados, tanto de instituições quanto de editoras e livrarias
. Sá Earp, Fabio e Kornis, George. A Economia da Cadeia Produtiva do Livro, Rio de Janeiro, Bndes, 2005
Confira dicas de especialistas para autores que querem publicar seu primeiro livro
‘Um em cada mil manuscritos é publicado’, diz Lúcia Riff.
Agente literária participou de debate no Fórum das Letras em Ouro Preto.
Amauri Stamboroski Jr. Do G1, em Ouro Preto
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“Eu recebo vários e-mails de pessoas que querem publicar seu livro, mas não sabem por onde começar. E infelizmente eu nunca tenho tempo de responder todo mundo, é uma pena”, lamenta a agente literária Lúcia Riff. Ela diz receber centenas de mensagens, sem contar manuscritos de obras completas, semanalmente, e afirma não dar conta de atender todo mundo.
A agente participou nesta sexta-feira (30) da mesa “Passos da produção do livro - da redação à edição” no Fórum das Letras em Ouro Preto. Em entrevista ao G1, ela explica que entrar no mercado editorial é uma tarefa complicada para escritores iniciantes. “Como diz a Anne-Marie (Metailié, editora francesa), um em cada mil manuscritos acaba sendo publicado. E nem sempre é o melhor, é o que tem mais sorte mesmo”.
Metailié, que participou do mesmo debate, é uma das maiores editoras de autores brasileiros na França. Ela diz que escrever “não é fácil. O autor tem que estar convencido de que para ele isto é uma necessidade”. Socióloga, ela começou sua editora (a Editions Metailié) para publicar apenas três livros, depois de conhecer o editor francês de Samuel Beckett, durante uma pesquisa.
“Era para ser uma editora de ciências humanas, mas fui aumentando o catálogo. Me interesso pelo ‘outro’ – outras partes do mundo, outros países. Temos dois lemas – ‘Livros para viver com paixão’ e ‘livros que trazem o mundo para os leitores’”, explica Metailié, que comemora em 2009 os 30 anos de sua editora.
Primeiro leitor
Ela diz que o trabalho do editor é ser o primeiro leitor do escritor, mas um "leior generoso", que faça críticas construtivas ao seu trabalho, sem nunca se impor demais. “É preciso apagar o seu ego frente aos autores”, explica. “Se você estiver disposto a não ganhar dinheiro por anos, ter paciência para lidar com os bancos, trabalhar por muitas horas e assumir seus erros, este pode ser um trabalho maravilhoso”, explica.
Formada em psicologia, Riff foi trabalhar em uma agência logo após sai da faculdade. Em 1991, montou a Agência Riff. “Em plena Era Collor!”, desabafa. “Tive que economizar, lutar muito. Mas valeu a pena” . Ela diz gostar de estar em contato com os autores brasileiros que representa. “Gonsto do comprometimento, do trabalho a longo prazo. É como uma mãe com vários filhos”.
Ela diz que esperava novas agências literárias aparecendo nos últimos anos, mas que isso não aconteceu. “Há espaço, temos muitos bons autores, um mercado editorial forte. Ao mesmo tempo, é difícil começar – você precisa de um bom escritório, de disposição para viajar internacionalmente, bons contatos”, imagina.
Confira abaixo nove dicas de Lúcia Riff para os novos autores que querem ser publicados
- Leia bastante, conheça outros autores e os gêneros literários.
- Vá a livrarias e procure entender melhor o mercado editorial e o que está sendo publicado.
- Melhore seu texto: participe de oficinas, faça cursos, envie seus textos para uma leitura crítica feita por especialistas (que cobram por isso).
- Envie seu material para editoras que têm o perfil do livro que você quer escrever.
- Você pode achar chato escrever na internet em blogs e sites, mas ela também é um meio para se publicar e amadurecer seu texto.
- Se tiver dinheiro e quiser apenas publicar tiragens menores de seus livros, você pode recorrer a gráficas independentes.
- Gostar de escrever é uma coisa, mas ser publicado é outra. Nem sempre aquele que é publicado é melhor do que o que permanece inédito. É preciso paciência.
- Se você escreve literatura infantil ou juvenil, boa notícia. Esse mercado tem mais espaço para novos autores.
- Visite sites como www.escrevaseulivro.com.br e www.amigosdolivro.com.br para ver mais dicas de cursos e oficinas.
Veja a programação completa do Fórum das Letras de Ouro Preto no site oficial do evento: www.forumdasletras.ufop.br/
Texto retirado do blog Livros e Afins (http://livroseafins.com/)
No Brasil, isso ainda é difícil. Mas espero que não demore para haver por aqui recursos como o Lulu e o Blurb – este último indicado pelo Paulo.
Em ambos você edita seu livro, armazena e vende de acordo com a demanda. Um exemplar só é impresso se alguém o compra. O Blurb oferece inclusive um software gratuito de edição. Ambos já trabalham com distribuição para diversos países, mas ainda não para o Brasil.
No Brasil o que mais se aproxima dessa idéia é o Fotosite. Como o nome indica, o serviço é principalmente voltado à fotografia. Como é explicado por ali, se você quiser pode imprimir apenas um exemplar a um custo relativamente baixo.
· Conheça também o Clube de Autores, que funciona nos moldes do Lulu e do Blurb
Serviços como esses evitam impressões inúteis, que ficam encalhadas em alguma garagem por problemas de distribuição – muito comum com edições do autor, pagas do próprio bolso -, e evitam também o uso das pouco inteligentes Leis de Incentivo a Cultura, muito úteis porém a quem não precisa delas como medalhões da MPB e duplas sertanejas.
Principalmente, evitam que o escritor – e não vamos discutir sua qualidade – coloque a mão no bolso em vão.
Portal Impressão Digital
No Brasil, outra iniciativa – ainda que bastante distante do Lulu e do Blurb em seu conceito, mas já nessa direção – é o Portal Impressão Digital, talvez um primeiro passo para uma impressão em demanda mais individualizada.
No entanto, ele ainda tem uma cara um tanto quanto empresarial. E talvez seja essa a intenção mesmo. Ainda assim, é possível encontrar bastante, bastante mesmo, informação útil para você que quer se aprofundar nas questões mais técnicas do livro.
Se você quer imprimir o seu livro, no Portal Impressão Digital também há essa opção, mas aparentemente é preciso entrar em contato primeiro, negociar preços, quantidades e etc. Coisa que no Lulu e no Blurb, por suas naturezas, é totalmente desnecessário.
Saiba mais
Você pode saber um pouco mais sobre tudo isso lendo esta matéria de Bia Granja, publicada em 2005.
As informações sobre o Portal Impressão Digital foram enviadas pelo site Amigos do Livro, a primeira entidade a entrar em contato com este blog para divulgar atividades a ela ligadas. Meu agradecimento a João Scortecci por ter respondido prontamente à divulgação que fiz de meu site.
Esse texto é de autoria de Fábio Yabu, autor do blog http://www.yabu.com.br/blog/, escritor e ilustrador infantil. Tem 9 livros publicados no Brasil, entre eles, a série “Princesas do Mar“, que deu origem ao desenho animado exibido pelo Discovery Kids. Conheça os livros do autor aqui.
De vez em quando recebo e-mails de pessoas interessadas em publicar seu livro, pedindo dicas sobre o tortuoso caminho até as livrarias e o coração dos leitores. Não tenho todas as respostas para as dezenas de perguntas envolvidas, mas posso compartilhar algumas coisas que aprendi no caminho.
1. A primeira pergunta
A primeira pergunta, e a mais óbvia geralmente é esquecida pelas pessoas, em todas as áreas profissionais. Ela não é “como publicar um livro?” e sim “por que publicar um livro?”. Para ganhar dinheiro? Satisfazer o próprio ego? Levar uma mensagem às pessoas? Deixar seus pais ou filhos orgulhosos? Nenhuma das respostas é melhor do que a outra, mas cada uma influencia diretamente na abordagem do escritor. Por isso, reflita bastante sobre essa pergunta. Será que o livro é a melhor solução? Livro dá trabalho, custa dinheiro, é difícil distribuir… Já pensou em escrever filmes, séries de TV, tiras de jornal, um blog? Vale tudo, menos fanzine.
2. Dá dinheiro esse negócio?
Geralmente essa pergunta deveria ser deixada por último, mas já que as pessoas fazem tanta questão de saber, vamos lá: depende. Depende do seu livro, depende de você, depende do alinhamento dos astros e da sua expectativa. A priori não dá pra largar o seu emprego (ou a busca por um) logo que você fecha um contrato com uma editora. Na grande maioria dos casos os escritores ganham um percentual sobre livro vendido, que varia entre 8 e 10% do preço de capa. Só? Só. O maior percentual (cerca de 50%) cobre os custos de distribuição (livraria) e o resto vai para a editora, que também arca com a impressão.
Tem gente que acha pouco, mas há que se lembrar que a distribuição de livros no Brasil é complicadíssima devido ao tamanho do país. Custos de impressão e papel são absorvidos pela editora, assim como eventuais prejuízos.
3. Escrevi, diagramei e ilustrei meu livro! Posso sair mandando?
Não.
Geralmente as pessoas tendem a querer ser polivalentes, escrever, desenhar e pintar. Não precisa. É melhor fazer uma coisa bem feita do que um monte de coisas mais ou menos. Então, vamos voltar ao básico. Escreva seu livro. Preocupe-se com isso. Viaje, ame, se iluda, conheça pessoas e crie memórias. Esse é o papel do escritor.
Se você ilustra também, beleza, faça alguns esboços para ajudar a materializar seu livro. Mas não queira mandá-lo pronto para a editora que você estará perdendo seu tempo, já que lá já existe um profissional dedicado em procurar a melhor solução exigida pela sua obra, vai da escolha e formato do papel, estilo de ilustração mais adequado, projeto gráfico, etc, etc, etc. Então não se preocupe com o operacional e faça o que você faz de melhor (assim espero!): escrever.
4. Um amigo de um amigo meu desenha que é uma beleza. Até ganhou um concurso da Semana da Pátria. Posso chamá-lo para fazer a capa do livro?
Hmmm eu não me preocuparia com as ilustrações a não ser que se trate de um livro infantil onde elas são peça chave. Geralmente as editoras já possuem uma gama imensa de profissionais pré-selecionados, inclusive o seu amigo aí da Semana da Pátria. Talvez seja sensato deixar que ela faça essa escolha, com a qual você não é obrigado a concordar.
Outro problema em conhecer um amigo desenhista é que às vezes tomamos as pessoas próximas como referencial e nos esquecemos de procurar outras possibilidades. Se a única ferramenta que você tem é um martelo, de repente tudo à sua volta começa a se parecer com pregos.
5. Legal! Agora sim, escrevi e tá campeão! Um novo Memórias Póstumas!!
Sei. Bom, então agora vamos procurar a sua editora. Não adianta sair dando tiro para tudo quanto é lado. O approach correto com as editoras é parte vital para o sucesso do seu livro.
O primeiro passo é saber que tipo de editora tem a cara do seu livro. Cada uma tem sua linha editorial; e isso é muito mais relevante do que a qualidade da sua obra prima. A Editora Cosac & Naify por exemplo não publica auto-ajuda. A Conrad dá preferência a livros com temas ousados que causem reflexão. A Brinque Book só infantis, a ArxJovem só juvenis (note a diferença) e assim por diante.
Vale a pena dar uma olhada na livraria para saber o que cada um está publicando. Veja também se a editora em questão tem no catálogo autores brasileiros, se ela tem site e se possui alguma política de avaliação de originais. Se sim, pimba! Pode mandar e cruzar os dedos.
6. Mas peraí. Não vão roubar minha idéia, não? Malditos editores!!
Eu acho difícil. Editoras sérias não precisam correr o risco de roubar uma idéia genial de um escritor de primeira viagem (lembre-se da pequena porcentagem que fica para o autor). Não faz muito sentido.
As pessoas tendem a achar que o mundo é cheio de super-vilões querendo acabar com as Meninas Superpoderosas. Todo mundo tem um amigo bêbado que teve uma idéia maravilhosa roubada pelo Spielberg. Sei.
Mas enfim, o seguro morreu de velho. Caso se interesse em registrar sua obra, procure a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. O site é www.bn.br
7. Mandei pra editora. E esperei. Esperei. Esperei.
Então espera mais um pouquinho, e sentado! Demora mesmo. Imagine o quanto de originais uma editora recebe. Vale a pena ficar ligando lá? Eu acho que não, além de soar antipático. Possivelmente eles lhe darão uma resposta em até seis meses, nem que seja um NÃO na cara dura. Mas se for um SIM…
8. SIM! Vão publicar meu livro!
Legal, parabéns! Mas pera lá.
Dificilmente (leia-se: impossivelmente) a editora vai publicar seu livro tal qual foi escrito. É bem provável que ele passe por um crítico literário, que o avaliará de acordo com a linha editorial, fará observações e sugestões pontuais que você deverá seguir ou não. O trabalho do crítico literário é essencial, e suas considerações devem ser refletidas. Ao contrário da sua mãe e dos seus amigos, ele vai analisar seu trabalho friamente não poupará críticas construtivas.
O trabalho do crítico leva de duas semanas a um mês. Após essa primeira leitura, você altera o texto e reenvia para a editora, que o reavalia e, se estiver tudo ok, envia para revisão. Então, você revisa a revisão, ou como dizem, rerevisa.
Finalmente o texto vai para a diagramação e ilustração, se for o caso. Nessa etapa do processo é criado o projeto gráfico, que envolve capa, escolha de fontes, papel, etc. Seu envolvimento não é necessário e, em muitos casos, indesejado. Saiba dar espaço para as pessoas trabalharem, ninguém está interessado no seu fracasso e toda a ajuda nesse começo é bem-vinda.
O livro está pronto? Foi para a gráfica? Voltou, ficou lindo? Então…
9. O livro publicado
Vamos a mais uma etapa crucial no processo: a livraria.
Entender como funciona a distribuição de livros é essencial para entender o que acontece com o seu livro após a publicação.
As livrarias funcionam em locais com limitações físicas. Não dá pra ter todos os livros do mundo num único lugar. Então, o meio é naturalmente concorrido. Os lugares de maior destaque então, chamados de “ilhas” são para poucos mortais. Corre à boca pequena que algumas editoras precisam pagar para ter seus títulos lá. Mas não entremos nesses méritos.
Algumas livrarias trabalham com consignação, outras compram os livros diretamente para revendê-los, a maioria faz um pouco de cada. Se o autor é conhecido, espera-se que a livraria compre uma boa quantidade de livros, se não, não dá pra querer milagre.
Não se desanime se esta ou aquela livraria não tiver o seu livro e o vendedor fizer cara de bunda quando você perguntar sobre o danado. Não é nada pessoal. Se você nunca publicou nada, tenha muita paciência e saiba ver as coisas a longo prazo. Nenhum autor que se leva a sério começou de cima. O sucesso é saboroso, mas ele deve ser elaborado ano a ano, com paciência e dedicação, senão desanda.
Então, por favor, não me venha com presepada. Tem autor que sai na Bienal com megafone anunciando seu livro, literalmente agarrando leitor, jogando xaveco em jornalista. Eu pessoalmente acho que não tem nada a ver. Autor não tem que vender o livro, esse é o papel da editora. O papel do autor, como eu disse antes, é escrever, e só. Não queira precipitar as coisas. Se o seu livro for bom, uma hora ele vai vender e se tornar conhecido. Se não for, você ainda tem outros talentos, é uma pessoa honesta e escreveu uma história bonita. Então está no lucro.
10. Acabou?
Escrever é um vício, uma compulsão. Apesar de todas as dificuldades, que convenhamos, são inerentes a qualquer profissão, escrever é uma atividade extremamente recompensadora. Então, se você realmente aprecia o que está fazendo, é provável que você queira lançar o seu segundo livro, terceiro, quarto… para todos valem os passos anteriores, que a essa altura você já conhece de cor e salteado. Com a vantagem de que você já possui um relacionamento saudável com a sua editora.
Muitos autores só começam a ganhar algum dinheirinho lá pelo quarto, quinto livro. Se você considerar que escreve um livro a cada dois anos (uma média excelente), pode esperar algum retorno do seu investimento para a próxima década.
Difícil, né? Então por que diabos tem tanta gente fazendo?
Essa, meu caro, minha cara, é a pergunta mais importante! Saiba respondê-la e nada disso vai fazer a menor diferença!
Dicas para quem pretende escrever um livro João Scortecci
Uma pergunta inevitável que um dia acontece na vida de um escritor de sucesso, de um professor de literatura, de um crítico literário e na carreira de um editor de livros. Qual o segredo para escrever um bom livro? Antes de pontuar obrigo-me a registrar o que me parece essencial: criatividade, talento e persistência. Sem sinergia e fusão destes elementos não vejo qualquer possibilidade de sucesso e êxito. Lygia Fagundes Telles quando nos fala sobre a arte de escrever inspira: “Rasgar, rasgar e rasgar. Eu rasguei muito.” Hoje, com o advento da ferramenta computador poderíamos dizer que o exercício de “Deletar, deletar e deletar...” explica com ciência e razão aquilo que a dama da literatura brasileira nos ensina como segredo.
Vamos às dicas:
Ser um leitor. Um ótimo leitor. Um leitor voraz e dedicado. Se o objetivo é um romance concentre-se no gênero. Literatura brasileira e estrangeira. Faça uma boa busca em sebos e bibliotecas e você encontrará escritores que o aguardam. No exercício da leitura observe com atenção o primeiro parágrafo de uma obra, como cada autor começa a sua aventura, o trejeito com que ele trabalha os diálogos, pontua um fato e registra com delicadeza o fio condutor de sua história.
A entrada em cena de cada personagem – principal ou coadjuvante – precisa receber do autor uma carga inicial de energia. Quando o autor não o faz corre o risco de perder o leitor. O encanto tem que ser de imediato. Empatia pura. Quando o personagem mostra a sua alma passa a ser um coautor e um aliado do próprio criador. Ele puxa e pede, de direito, o seu espaço na história. É comum em um romance um personagem secundário ganhar fôlego e seguir em frente no seu tempo além o planejado no roteiro inicial.
Ter uma boa história. Concisa, objetiva e única. Conversando um dia com Fernando Sabino - gravávamos um programa na TV Bandeirante - ele me ensinou: uma boa história é aquela que pode ser contada. Começo, meio e fim. Simplicidade e harmonia no fio condutor evitando a todo custo ansiedade de concluir antes da hora. O inverso – exagero de se estender além da conta – também não é recomendado. Saber parar é uma arte. Poucos conseguem “criar” o número exato de palavras. O ponto final deve ser cometido com sabedoria cirúrgica. Não existe um sino que toca ou um alarme que pisca.
Fazer um roteiro. Inicialmente simples e pontual. Em tópicos. Deixe os detalhes para depois quando um segundo roteiro – mais complexo – se fizer necessário.
A escolha do número de personagens (não exagere) e seus respectivos nomes é tarefa delicada e que precisa ser feita com critérios. Alguns nomes têm mais força do que outros e ocupam na história “heranças” que podem influenciar no enredo. Evite nomes de modismo e fora de época. Faça uma pesquisa. Hoje a Internet é uma ferramenta poderosa de consulta e pode salvá-lo de muitas armadilhas
Por falar em Internet, não nego a minha paixão por ela, mas recomendo cautela e desconfiança com as informações. Tudo precisa ser checado matematicamente, e conferido várias vezes. Datas, lugares e costumes são sinais que devem ser observados na hora de uma leitura crítica. O estrangeirismo é um perigo mortal e costuma fazer estragos irreversíveis. Concluído o roteiro, monte o que chamamos rede intrigas. Costumo brincar com os meus alunos que uma coisa é se chamar João Sebastião e outra coisa é John Sebastian.
Amor, ódio, morte, casamento, assassinato, inveja, infidelidade, poder, ganância, ambição, gula, raiva e medo são ingredientes que devem ser considerados na elaboração desta rede. Prender a atenção do leitor e mantê-lo ligado na história é a missão – quase – impossível e o seu desafio maior. Não é fácil. O leitor às vezes se torna preguiçoso e sua atenção voa para longe e o resgate torna-se precário para não dizer incerto. Um leitor perdido não volta inteiro. Quando isso acontece não há nada mais o que fazer.
Evite chavões e plágio. Você até pode “babar” de leve uma passagem ou uma frase de efeito. A tentação acontece, e mente quem diz que não. Alguns parágrafos são perfeitos e a inveja literária costuma tirar o sono de muitos. Alguns títulos são eternos e maravilhosos. Valem o livro. Quem não gostaria de escrever: Cem Anos de Solidão; A Insustentável Leveza do Ser, Vidas Secas, Capitães da Areia, A Menina que Roubava Livros, Ciranda de Pedras etc.
Faça a opção por capítulos. Escolher ou não um título para o capítulo não é tão importante. O que pesa positivamente é a pausa. Trabalhar por capítulos é uma mão-na-roda. Havendo um desequilíbrio no texto – isso é comum acontecer – o leitor acaba não percebendo a falha. É no final de cada capítulo que o leitor toma a decisão de avançar - dando-lhe vida - ou de desistir fatalmente.
Uma vez, jurado de um concurso de romances no Paraná, fui surpreendido com uma interessante nota de rodapé que dizia: “vai melhorar”. A máxima se repetia a cada página virada e lida. Incrível foi o rumo que dei à minha curiosidade ao extremo. O livro não era bom. Mas ele foi incorporado involuntariamente à minha biblioteca pela insistência criativa do autor. O “infeliz” foi capaz de me imobilizar com uma chave de profunda curiosidade. Li o livro de cabo a rabo. Li as últimas páginas odiando, e jogando praga e cuspindo fogo.
O que faltou para ganhar o selo de um ótimo livro? Faltou bagagem. Faltou experiência. Um moço com vinte e poucos anos (isso não é um crime) escrevendo um romance autobiográfico. Procurei em sua obra por marcas e fatos de amor, ódio, morte, inveja, gula, raiva, medo em sua obra e nada encontrei. Ele, autor e história eram palavras vazias, ocas, escritas sem a mula do tempo. Mesmo com criatividade, talento e domínio das palavras o romance não seduzia, não dava liga, não pegava! Um livro precisa abduzir leitores.
Depois de pronto é importante saber que o livro não está pronto. Ler e reler exaustivamente ajuda a criar – muita – repulsa pela obra. Isso é bom. Conheço autores que chegam ao ponto de quase suicídio literário. Calma. É hora então de procurar ajuda profissional. Independentemente de uma edição de autopublicação ou comercial, através de uma editora, uma obra precisa de revisões e leitura crítica. Tudo isso antes de seguir o caminho natural de publicação, impressão, veiculação e comercialização.
A leitura e análise da obra por um bom profissional (o mercado possui uma boa carteira deles) costumam encontrar aquilo que passou despercebido e involuntário. É espantoso descobrir o erro do óbvio. “Não posso acreditar que isso passou...” É comum escutar declarações desse tipo, mesmo de escritores de renome com dezenas de livros publicados.
Escolhendo um título. Um parto para muitos. Para os que não encontram de saída um título “incrível”, costuma bater desespero. O medo de o editor batizá-lo com um título “ridículo e pobre”, tira o sono de muitos. Recomendo escolher um subtítulo que defina com exatidão sua obra para eventuais mutilações. Aumentar a oferta de informações para quem vai decidir se publica ou não sua obra pode servir de dica para um título perfeito.
Uma vez fiz uma consulta nos arquivos da Fundação Biblioteca Nacional sobre a escolha preferida para títulos de autores brasileiros. Na época o campeão era “Pedaços de Mim” e em segundo lugar “Lembranças”. Que falta de imaginação. Eram livros de poesia, mesmo assim escolhas pífias. Última dica. Terrível, mas válida. Desistir não é pecado. Muitos o fazem todos os dias... Só que ai então, como fica o que é essencial para se escrever um bom livro: criatividade, talento e persistência?